Idosa completa 100 anos e passa segundo aniversário sem festa devido à pandemia: 'nada na minha vida se compara a isso'

 

 

Foto: Arquivo Pessoal

O aniversário é a data predileta de Altair Magalhães de Almeida, que completa 100 anos neste domingo (21). Os planos para a data foram frustrados pelo segundo ano consecutivo pela pandemia do novo coronavírus. Em 2020, os vizinhos cantaram parabéns pela janela para marcar os 99 anos.


Moradora do bairro das Graças, na Zona Norte do Recife, a dona de casa decidiu suspender mais uma vez as comemorações do seu aniversário por conta do aumento nos casos da doença e também em respeito aos parentes de quem morreu após ser infectado pelo novo coronavírus (veja vídeo acima).


"Tinha muita vontade de comemorar [os 100 anos], mas não é possível, moralmente e de coração. Não ia me sentir bem", declarou a idosa.


Altair nasceu em 21 de março 1921, um ano após o fim da gripe espanhola, que foi a maior pandemia do século 20 e matou 50 milhões de pessoas no mundo todo. Ela tinha 18 anos quando começou a Segunda Guerra Mundial, que durou de 1939 a 1945. Em todo esse tempo, nunca ouviu falar de nada tão impactante quanto a pandemia que vive hoje.


"Nada na minha vida se compara a isso. Não ouvi muito sobre a Gripe Espanhola porque ainda não tinha nascido. As pessoas falavam que morreu muita gente, mas não falavam muitos detalhes. Não se falava desses assuntos na frente de crianças", recordou.


No entanto, a 2ª Guerra deixou lembranças de tempos difíceis. "Tinha racionamento de gasolina, 'blackout' (apagão) à noite, mas não essa situação que a gente está acompanhado, com tantas mortes aqui. E a gente podia circular livremente", lembrou.


Em 2020, Altair tinha comprado roupa, contratado bufê e pensado em tudo para comemorar com amigos e familiares quando foi surpreendida pela pandemia. Foi possível comemorar apenas de longe. A família fez uma festa surpresa pela varanda, em meio ao isolamento.


Dessa vez, a esperança que chegou junto com a primeira dose da vacina, tomada em fevereiro. Ela começou a organizar uma comemoração cheia de cuidados, com pouca gente, comidas em caixas para que os convidados não tirassem as máscaras e comessem apenas quando chegassem em casa.


"Estava programando uma festa com muitos cuidado e uma missa na Igreja das Graças, mas cancelei antes mesmo do governo decretar a quarentena [em vigor até 28 de março]. Não achei certo fazer uma festa para comemorar a minha vida enquanto milhões de pessoas morrem", disse.


A comemoração neste ano ocorreu aos poucos. Passou um dia com um filho, recebeu uma visita de uma filha e planejou um café da manhã com outro filho. Tudo com muito cuidado e distanciamento. Mais uma vez, não foi possível reunir a família ou encontrar os netos. Os encontros em família agora acontecem virtualmente.


"Eu fiz o aniversário parcelado, encontrando os meus filhos aos poucos. Eu não iria fazer uma festa e correr o risco de alguém ficar doente. É difícil, mas é um momento em que a gente tem que ter muita fé em Deus e força pra atravessar isso com a cabeça mais leve", observou.


Altair tirou uma lição desse centésimo ano de vida tão duro. Aprendeu a dar ainda mais importância a proximidade com as pessoas que ama. "A gente aprendeu a dar mais valor a amizade, ao amor de pai, de mãe, dos filho, marido, mulher. Vai ficar alguma coisa diferente quando acabar isso tudo".


Fonte: Priscilla Aguiar, G1 PE

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